Vera
3 min readJan 21, 2021

A reinvenção da Globo

No aniversário da tv brasileira, a Globo só tem o que comemorar

Não me lembro quando comecei a amar televisão. Mas me lembro de ver apaixonada, quando criança, o Cozinha maravilhosa da Ofélia (Band), com minha madrinha. Eu era fascinada com a dinâmica do programa, com a senhorinha com cara de vó que preparava comidas apetitosas.

Hoje, a atração não existe mais, minha madrinha e Ofélia morreram, e eu virei uma fã do tema. Procuro de forma obcecada números que mostrem o que está em alta, faço apostas comigo mesma dos rumos da tv, de programas, de apresentadores.

Big Brother é uma marca consolidada no Brasil. Nenhum outro reality show foi tão longe. SBT e Record nem tentam mais superar uma paixão que o Boninho cultivou com inteligência e maestria.

A Globo chegou a dezembro do ano passado com indicativos impressionantes. Enquanto todo mundo fechava portas e reduzia gastos, a Globo esbanjava sucesso. Globo News, o canal de notícias pago da emissora, chegou ao final do ano com a maior audiência de sua história. CNN não fez cócegas na Vênus Platinada. O canal Viva, que reprisa um produto de ouro da rede, novelas, pegou o segundo lugar com muito merecimento.

BBB, Globo News e Viva mostram a capacidade da Globo de se reinventar. No ano em que a Televisão brasileira completou 70 anos de existência, a emissora que se mantém com qualidade e audiência no Brasil deixa provas incontestes de que sabe fazer TV como ninguém. E num 2020 marcado também pelas denúncias de assédio sexual envolvendo Marcius Melhem, que repaginou o núcleo humorístico da rede, a marca escalou incólume o ranking de audiência.

Em 1999, Sílvio de Abreu decidiu matar suas personagens lésbicas Leila e Rafaela de Torre de Babel, vividas respectivamente por Sílvia Pfeifer e Christiane Torloni, porque era o desejo da população, de seus telespectadores. Em 2004, a Globo pôs Taís Araújo como protagonista em Da cor do Pecado, a primeira negra neste papel de relevância. 2015 nos trouxe Fernanda Montenegro e Nathalia Thimberg se beijando no capítulo de abertura de Babilônia. O mundo mudou. A Globo só seguiu o sentimento da sociedade.

A edição 19 do BBB amargou péssimos números de audiência. Muitos críticos davam como gasto e morto o formato do programa que durante anos garantiu audiência e patrocícios milionários à empresa.

O mundo mudou desde o primeiro Big Brother Brasil. Tivemos mudanças sociais, políticas e a forma de se consumir televisão é outra. A tv continua viva, porém agora ela divide lugar com outra tela: a do smartphone.

O Twitter é o principal meio da internet para acompanhar em tempo real o que é exibido na tv. Copa do Mundo, votação, Olimpíadas, final de novela, e principalmente reality show contam com a audiência fiel de quem utiliza os 280 caracteres para expressar amor e ódio pelo que se passa numa caixa gigante alimentada por antenas.

O clichê da Fenix é perfeitamente aplicável ao que a Globo fez com o BBB: Boninho mudou o que não estava dando certo ao aliar a internet com a mídia favorita dos nossos avós. Em vez de convocar apenas anônimos como sempre fez, 2020 recuperou fôlego e trouxe famosos campeões de engajamento em suas redes sociais.

A receita que parecia arriscada superou expectativas e foi a segunda melhor audiência desde 2010, que teve como vencedor Marcelo Dourado, participante famoso da 4ª temporada. Ali a emissora já tinha alguma sinalização do que o público poderia querer.

2021 começou meio parecido com os meses subsequentes à pandemia no ano anterior. Poucas mudanças, alguma esperança com a vacina para nós brasileiros, e desafios no campo do entretenimento e das notícias.

O elenco deste ano do BBB promete cenas memoráveis para a audiência cativa do programa, e com a possibilidade de o jovem continuar no home-office e sem vacina até 2022, Boninho talvez tenha recordes para comemorar daqui a alguns meses.

Eu, que há tempos mais acompanho a repercussão do Big Brother Brasil do que o programa em si, este ano farei diferente. Não prometo ver tudo todos os dias, mas já estou pronta para dar uma espiadinha mais demorada no que estão fazendo algumas das pessoas mais entendidas de TV no mundo.

(Texto feito com dados coletados de sites de notícia de TV)